Que toquezinho irritante... daqueles que se acham músicos quando põem o dedo na campainha e fazem variações do "Cochicho da menina"...
Abro o postigo, contrafeito e com cara de poucos amigos. É para que saibam que aqui o Guarda-Livros não dá confiança a este tipo de escritores, era o que mais faltava! Distância, distância!
Ah! Mas que bela surpresa! A Menina Poetisa?! Então lembrou-se dos pobres?
De quem?
(Arre que é estúpida!)
De mim, do seu Guardazinho-Livros!
Ah! Pois...
(Esta gaja não atinge...)
Sabe o que eu tenho vindo a pensar Sr.Guarda-Livros? (Não, mas desconfio que ela me vai dizer...) O Senhor aqui, com tantos conhecimentos (e foi entrando pelo estaminé adentro), com tanta gente que escreve tão bem, sempre a recebê-los, a viver as suas obras, eles com as suas confidências, vá lá, não diga que nunca lhe contaram os seus segredos? Olhe que eu não acredito...
E foi-se chegando a mim. Assim. Em pleno horário de expediente. À luz do dia. A meter-me as mãos pelo casaco, pelos bolsos das calças e até um apalpão no traseiro!!!
... Não estou a perceber Menina Poetisa...
Oh, Senhor Guarda-Livros não se faça de desentendido... já deve ter percebido que tenho ânsias por si...
(ÂNSIAS???)
(Vais ter que ir ao castigo! E hoje até fumo um cigarro para comemorar!)
Se o senhor for bom para mim eu sou boazinha para si... Como assim? Ora, basta que ponha a minha obra na prateleira de destaque...
Pois é! Isso é que não pode ser! Trabalho é trabalho, Menina Poetisa é outra coisa! Eu cumpro escrupulosamente o serviço e estamos em plena hora de despachar! Desculpe lá, mas isso não pode ser! Eu não funciono com cunhas! Não me vendo, não sou corrupto, não troco favores! E agora agradeço que se retire! Estou muito ocupado!
Desatou numa chinfrineira que temi que as estantes ruíssem. Praquejou, calçou as chinelas e foi o bom e o bonito! Ameaçou-me. Chamou-me murcho. Murcho EU?!
Andor, andor! Querem lá ver?!
Deve de haver uma maneira desta gentinha perceber que eu sou um Guarda-Livros sério. Nem a carne me demove!