Não há como dizê-lo de outra forma: Estou aborrecido. Até um bocadinho sentido. É que depois da invasão no meu estaminé parece que todos se puseram em fuga e agora não aparece quase ninguém.
Foram-se. Lá para as suas vidinhas, todos ufanos a comemorarem o Natal, não se lembram mais de mim, não se lembrarão de mim quando à mesa engordurarem os mesmos dedos com que escrevem, um pensamento que seja para o Guarda-Livros, olha esta azevia é em honra e à saúde do Guarda-Livros, que coitado, lá está...
Pois estou.
Sózinho.
Eu, a árvore de Natal e o presépio. Mais as luvas sem dedos. Este ano nem cartão de boas festas com música... Sonho com um Natal de neve, bonecos com nariz de cenoura, o regresso a casa e à ceia rica. O Natal até é bonito. Muito colorido, muita fantasia, muito brilho.
Ofereço-me um cigarro, posso tragá-lo de mãos quentinhas, os dedos soltos das luvas que a mulher do patrão me ofereceu.
Tenho pena de mim mesmo. Não há mais ninguém que se condoa da minha pessoa...
Mas deve de haver gente bem pior do que eu, deve sim. Feliz Natal.