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O patrão ligou: Que esteja de prontidão para receber um grupo escolar.



Miúdos da escola? Mas isto não é um recreio! É um local de trabalho, muito suado pelo meu esforço (e pela canícula, é certo...). Se os fedelhos vêm para aqui dão-me cabo disto tudo! Já se sabe como são, sempre a mexer em tudo, a desarrumar, os pedidos (Quero xixi! tenho sede! Quero cócó! Porquê? Porquê?? Porquê???), e depois tudo aos guinchos, sempre a tentarem trepar pelas estantes!





Eu não sou ama, nem trabalho num jardim-infantil, nem pertenço à classe dos professores. Porque raio tenho que levar com isto?!





É para aguentar e de boa cara! Não quero que os putos se vão queixar aos paizinhos e depois tenho que levar com eles, ouviu Sor Guarda-Livros? Mas, mas... Acabou a conversa! Parece que você não sabe como estas coisas funcionam?! Os pais metem-nos nos OTL, não estão para levar com eles! E ainda mais neste dia, você não sabe que hoje é o dia da criancinha? Oh chefe, eu saber sei, mas... Não discuta! Quer que sejamos apontados a dedo pela sociedade civil? É uma ordem, ouviu? UMA ORDEM!!!






(desligou)





Pergunta-me a mim, Guarda-Livros, se não sei que dia é hoje... Até fico magoado. É dia de trabalho como todos os outros 364. Na minha infãncia não havía cá dias da criança, portavamo-nos direitinho, sem ondas, ou já sabíamos que uma boa lustrina nos punha no caminho.




Devía de haver alguma recuperação ( e consideração) pelos bons e antigos métodos de educação. Garanto que muito do que é hoje chamada criancinha com problemas comportamentais havería de se tornar um adulto às direitas...