13.

Se há coisa que goste mesmo é de receber os livros que os autores autografaram previamente.

Ah! Como gosto!

Apreciar a assinatura, a dedicatória quase como uma chancela... alguns assinados na pressa, a mão a doer, os dedos a terem caimbras pela monotonia do acto, a repetição dos mesmos gestos.

Coitados.

Mal sabem que nunca os hão-de ler, deleitar-se com a letrinha a dizer Com Amizade, Um abraço sincero do... Tanto trabalho para nada. Não vendem. Não aparecem no lançamento. Lançam-se neste mundo ingrato pensando que lá porque os de casa e os parentes gostaram, todos vão a correr comprar... Uma desilusão.

A maioria aparece envergonhada; outros revoltados; muitos com uma carroça que nem vos conto, tentam afogar as mágoas, esquecer a noite em vão, à espera. À espera de Goudot.

Uns quantos veem em mim uma espécie de confessor. Um analista. Quase padre que os absolve do pecado da escrita mal parida.

Devía de haver uma compensação no meu salário por este acrescento que desempenho o melhor que sei. Afinal eu sou guarda-livros, o nome está mesmo a dizer, não é? Guarda-Livros. Não é Guarda-Confissões, Guarda-Aguenta.

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