57.

Está mais que visto que a minha sina nunca há-de mudar. A minha vida dava um fado, dqueles gemidos à moda árabe. Ninguém quer saber de mim, se estou vivo, se estou doente, se tenho que comer, se passo frio, se abafo entre estas toneladas de papel. Não se importam que eu leve o dia de pé, a subir escadas e escadotes, a trepar a estantes de alturas que dão vertigens até aos pássaros. O trabalho está todo nas minhas costas e por mais que já tenha pedido uma assistente, o patrão faz-se de surdo. Proibiram-me o último prazer concedido ao condenado de um fumozito de vez em quando e agora, quando quero um bafinho tenho de pôr a cabeça de fora do postigo e sujeitar-me às intemperies. A maior delas todas, a mulher do patrão, que me persegue, espreme e assedia fazendo-me homem-objecto. Sou pasto nas mãos do patronato e dos sindicalistas. Quero despedir-me e o patrão não aceita a minha demissão.



Deve de haver uma forma de eu ser dono de mim mesmo... Ou não?

1 comentário:

Marina disse...

Que tal pegar nas suas coisas e ir embora?
Deve de haver outro trabalho mais interessante...

:)