17.

Vai para quatro dias que não fumo.

No primeiro dia passou-se bem mas depois é que foram elas! Nem me conseguia concentrar no serviço. Rapei tudo o que era resto de beatas e enrolei uma mortalha mal amanhada com cheiro de requentado. Tive um ataque de tosse tão forte que pensei que ía asfixiar no nó da gravata.


Sinto-me triste. Ainda mais sózinho que antes. E tenho um gosto amargo na lingua como nunca tive nos dias de fumador.


Tenho que resolver esta questão o quanto antes: não quero nem consigo deixar o cigarro mas também não quero desobedecer ao patrão.


Por outro lado, hoje deu-me um gozo enorme ter aparecido por cá um jornalista a entregar o seu manuscrito. Vinha cheio de vento e de beata na ponta dos lábios. Descarreguei...


Oh amigo! Aqui não se pode fumar, tá bem, tá bem...


E não me ligou pevide!

Ora, aqui a autoridade sou eu, eu é que mando! E se eu disse que não se podía fumar era para apagar aquela merda num instantinho!


Arranquei-lhe a pirisca da boca e amachuquei-lhe o cigarro mesmo à frente das ventas! Toma lá para aprenderes, Oh jornalista!


Diz que vai fazer queixa de mim.

Que vá.

A quem?

Deixa-me rir...


Deve de haver uma maneira destes gajos me respeitarem, não porem a minha autoridade em causa, verem que isto é serviço e serviço - fumadores e não fumadores - é SERVIÇO e mais nada!

2 comentários:

coelhinho disse...

desobedecer ao patrão!: isso é o menos, até sempre me dá muito gozo, a paga que ele me promete não dá para ser obediente. além do mais tenho as minhas ideias, porque hei-de seguir as dos outros? são melhores? raras vezes. e depois aqueles dez mandamentos da lei do patrão...
ele segue-os?
o seu clã segue-os?
não! fingem...

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mas agora sempre te digo uma coisa: lá que seria bom que deixasses o cigarrito, isso seria. não consegues? olha paciência, mas é pena.

um abraço

GUARDA-LIVROS disse...

Olha Coelhinho, eu esforço-me, muito, tanto... mas a carne é fraca e eu para aqui, sempre sózinho, sem alegria nenhuma minha, sempre a viver a dos outros...

Haverá vidinha mais triste?

Eu vou tentar mais uma vez largar o vicio. Por ti e pelo patrão...